Saiba identificar um derrame e evitar o pior
O socorro rápido pode impedir a ocorrência de danos
cerebrais irreversíveis
Popularmente conhecido como derrame, o acidente vascular
cerebral (AVC) é conseqüência de uma deficiência na irrigação sangüínea do
cérebro. E qualquer interrupção no fornecimento de sangue ao cérebro, mesmo que
por um curto espaço de tempo, provoca a morte de células do órgão, podendo
acarretar dificuldades de locomoção, comunicação, distúrbios de memória e outros
sintomas.
"O paciente deve receber tratamento com trombolíticos (medicamentos que
dissolvem os coágulos) em até três horas depois do aparecimento dos sintomas. Os
AVCs são emergências médicas e têm de ser tratados prioritariamente por médicos
neurologistas", afirma o especialista Jorge El Kadum Noujaim, coordenador da
Campanha Nacional do AVC da Academia Brasileira de Neurologia.
O grande problema, conforme a Associação Americana do AVC, é que a maioria das
pessoas que sofre um derrame demora em médica 12 horas para chegar a um
hospital. No Brasil, apenas 30% da população é levada a um hospital em até seis
horas após a ocorrência do evento. Uma estatística desastrosa, que põe o AVC
entre as principais causas de morte no país: em cada três mortes por eventos
vasculares, duas são por acidente vascular cerebral. Para se ter uma idéia, em
2002, 87.338 pessoas morreram em decorrência de acidente vascular cerebral no
Brasil, enquanto o infarto do miocárdio provocou 61.477 óbitos no mesmo período.
Dependendo da duração, extensão e localização do AVC, os sintomas podem ser
leves ou graves, temporários ou permanentes. O tipo mais comum é o isquêmico,
causado pela formação de coágulo em vaso sangüíneo do cérebro, que bloqueia ou
compromete o fluxo de sangue e interrompe o fornecimento de oxigênio e
nutrientes essenciais ao funcionamento do órgão. Outra modalidade de AVC é a
hemorrágica, provocada pela ruptura de vasos sangüíneos no interior ou em torno
do cérebro.
Tratamento:
Mediante a aplicação de alguns testes muito simples é
possível reconhecer um derrame cerebral. Se a vítima apresentar dificuldade para
falar ou para compreender o que lhe é dito, dificuldade para ver, caminhar ou
dormência na face, braços ou pernas, em geral de um dos lados do corpo, peça-lhe
para rir, para levantar os dois braços, para falar uma frase simples. Se ela não
conseguir realizar nenhuma dessas funções adequadamente deve ser levada
imediatamente ao hospital mais próximo. Na dúvida, é sempre melhor prevenir do
que remediar. Os procedimentos diagnósticos realizados no hospital são
fundamentais para diferenciar o AVC de outras doenças igualmente graves e com
sintomas semelhantes.
Um importante avanço no tratamento do AVC foi o desenvolvimento de novas
terapias capazes de dissolver o coágulo e restaurar o fluxo sangüíneo para o
cérebro. A maior parte dos tratamentos funcionam melhor se administrados até
três horas após o início dos sintomas.
Após a fase aguda do AVC, é fundamental prevenir uma nova ocorrência, seja por
meio de terapias medicamentosas ou mediante processo cirúrgico para a remoção da
obstrução, denominada endarterectomia.
Após um derrame, normalmente são necessários tratamentos de
longo prazo com medicamentos específicos, como antiagregantes plaquetários,
anticoagulantes, antidiabetógenos, anti-hipertensivos e remédios que controlem
os níveis de gordura no sangue. Em casos específicos, pode ser indicada a
endoarterctomia e o tratamento endovascular com colocação de stents.
Causas e prevenção:
Além do histórico familiar e da idade avançada, fatores que não podem ser
evitados, as principais causas dos AVCs são hipertensão, diabetes, tabagismo,
consumo freqüente de álcool e drogas, estresse, colesterol elevado, doenças
cardiovasculares, sedentarismo e doenças hematológicas.
"Os casos precisam ser individualizados: o diabético não pode comer açúcar, o
hipertenso não deve ingerir sal, os que apresentam colesterol elevado não devem
comer gorduras saturadas. Se a pessoa não se encaixa em nenhuma dessas
situações, pode fazer tudo isso, mas sempre sem exageros", pondera o
neurologista Rubens Gagliardi, chefe do Setor de Doenças Cerebrovasculares da
Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. "É uma boa ação preventiva comer
alimentos ricos em fibras e frutas ricas em potássio, como laranja, melancia,
melão, pêra. Está comprovado que as populações que têm melhores dietas sofrem
menos AVCs", observa o especialista. Exercícios físicos moderados são sempre
bem-vindos.
No caso de pessoas obesas, Gagliardi alerta para o fato de que o risco maior
reside no chamado perímetro abdominal: "As pessoas com gordura localizada na
barriga têm maior chance de sofrer um AVC". Já o consumo moderado de álcool –
duas taças de vinho ou dois copos de cerveja – pode ajudar na prevenção dos
acidentes vasculares cerebrais. "Mas isso ainda está sendo estudado mais a
fundo", diz o neurologista. Quanto ao tabagismo, é prejudicial em quaisquer
circunstâncias.
Sintomas mais comuns:
Fraqueza ou dormência na face, nos braços ou nas pernas, geralmente afetando
apenas um dos lados do corpo.
Dificuldade para falar ou compreender o que se diz.
Dificuldade de enxergar com um ou ambos os olhos.
Dificuldade de caminhar.
Tontura, perda de equilíbrio ou de coordenação.
Dor de cabeça intensa sem causa aparente ou conhecida.
Prevenção:
Parar de fumar.
Reservar pelo menos 30 minutos por dia para fazer alguma atividade física, como
caminhar.
Manter o peso adequado.
Comer cinco porções de vegetais por dia.
Controlar a quantidade de sal, gordura e açúcar.
Evitar o consumo excessivo de álcool.
Se tiver mais de 50 anos, ficar atento à pressão arterial.
Procurar um médico caso o coração não bata de forma regular.
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